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"QUAL É O TEMPO DO AFETO?" 

Exposição Individual Juliana Naufel no Museu da Imagem e do Som de Santos

TEMPO AOS AFETOS

 

De que matéria são feitas as imagens? Da mesma da que são feitos os sonhos. Tempo e afeto. Memórias. Uma matéria-névoa, evanescente e perene, em contraste constitutivo de seu corpo e efeitos. Quantas histórias congregam? Quais memórias despertam esta amálgama de tempos e afetos sensivelmente impressa em luzes e sombras, perseverante em lenta, e quase perceptível, desaparição?

É nesta - e com esta – materialidade, evanescente e perene, que Juliana Naufel atua. Esta artista dos tempos e dos afetos retira, do tempo e de afetos, a sua própria materialidade. Sobrevivências vagantes, guardiãs de segredos, de histórias e memórias de quem, já não sabemos mais, do que, já não sabemos mais. Condensações de tempos e afetos, desdobradas em reavivamentos pela impressão de seus próprios tempos e afetos, materializados nos movimentos de suas insculturas lineares. Linhas de vida, linhas da vida. Prenhes de histórias e memórias. Pulsão de vida que se define num processo de elaboração pela interferência na materialidade física e poética da imagem, revolvendo estratificações de tempos e afetos na relação com os seus próprios. Neste encontro, Juliana cria um lugar comum, de afetuoso acolhimento. Não somos sós, somos nós, como integrantes de um imenso coletivo constituído pela multiplicidade infinita das particularidades de cada presença que o compõe, que, em comum, em comunidade, partilham dores, amores, saudades.

Com seus procedimentos de intervenção poética: a irrupção de sentidos pela fricção entre texto e imagem; a escritura perfurante tensionando a fisicalidade e volatilidade da matéria-imagem; a impressão de cores incitando o desdobramento temporal pela evocação de nossas memórias. Com esta grafia de gestos, manifesta nos movimentos das linhas e cores, Juliana inscreve na matéria-névoa, nos tempos e afetos de outras muitas pessoas, a si mesma, num movimento duplo de imersão e expansão, pelo reconhecimento de que este “si”, é uma grande coletividade múltipla, de tempos e afetos, de memórias e histórias, agora em comum, em comunidade. 

“Você me deixou vulnerável”, “Hoje pensei em você. Sorri.”, “Haverá despedida e amor por onde você for”, “Fazer do carinho uma constante”, “Acolher o afeto”, “Às vezes a saudade dói e tá tudo bem”, “Ela se sentiu parte de um sonho maior”, apenas a evocação de uma estrela e de um castelo de areia, “O seu perfume inebriante”.

Cada imagem, delicadamente inscrita por Juliana, abre conversações que nos levam a um mergulho nas muitas camadas de tempos e afetos que a constitui, e que, repentinamente, manifestam-se como nossa própria constituição. Talvez este seja o tempo do afeto. Este que é o da contemplação, o da conversação silenciosa, o da elaboração, o da revolução, o do conhecimento e autoconhecimento da efemeridade e perenidade de nossas próprias presenças no mundo. Um tempo que nos convoca ao nosso reconhecimento e agenciamento como participantes de uma história maior e comum. Talvez, o tempo do afeto, o tempo das imagens de Juliana Naufel, seja o tempo das nossas revivescências.

 

 

- Rita Bredariolli

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